27 abril 2011

Não me tens por perto.
Desfaleço na boca de outros poetas...
Enrubreço nas tintas de outras.
Esqueces-me
Não me lês.

16 abril 2011

A Filipe

Porque ate a lua perde o encanto sem ele...

11 abril 2011

Da difícil tarefa...

AMOR É SÍNTESE

Por favor, não me analise
Não fique procurando cada ponto fraco meu.
Se ninguém resiste a uma análise profunda,
Quanto mais eu...

Ciumento, exigente, inseguro, carente
Todo cheio de marcas que a vida deixou
Vejo em cada grito de exigência
Um pedido de carência, um pedido de amor.

Amor é síntese
É uma integração de dados
Não há que tirar nem pôr
Não me corte em fatias
Ninguém consegue abraçar um pedaço
Me envolva todo em seus braços
E eu serei o perfeito amor.
 
Mário Quintana

10 abril 2011

Liguei a luz da varanda às quatro da tarde - nada mais distante da cidade quente e insistentemente ensolarada em que moro. Liguei a luz e me teleportei ao meu mundo paulista de alma sulista que fui. Tomei um chá das cinco com Freud e Breuer, li alguns poemas de amor e permaneci subjetivamente por aí, extraindo do momento aquela beleza perseguida que há tempos não me visitava. A tarde fugiu-me corrida, deixando um tempo de “não ter o que fazer” à solta. Dancei com minha solidão, empurrando para a segunda-feira os deveres, a ansiedade e o relógio. Essas coisas de domingo...

01 abril 2011

Entre o medo e a feiúra.

Dentro de mim mora um monstro
que às vezes chora de noite e me acorda em sonhos.
Cada travessura sua chacoalha em minha mente
peraltices mil que condeno ou assisto encantada.
Certos dias ele cresce de um jeito que sua cabeça
entope minha garganta e me atrapalha viver,
como se eu fosse vomitá-lo a qualquer momento.
Não sei o que sinto pelo meu monstro,
sei que nasceu do silêncio e da dor.


22 março 2011

Da sinestesia II



Ao recordar uma exposição do Andy Warhol, no Museu de Artes do Espírito Santo, senti saudades do centro de Vitória. Os fãs de Andy que me perdoem, mas o melhor do passeio foi a saída: andar pelas ruas vazias e coloridas do bairro. Ainda acredito que a maioria dos capixabas não conhece o lugar... Um verdadeiro laboratório de imagens, cheiros, pessoas e sons que encanta qualquer sinestésico como eu. O centro é assim uma mistura de crenças e histórias fantástica. Senti saudades da minha janela no Mu. Senti saudades da época em que fui o centro de Vitória. Ainda sinto saudades.

20 março 2011

Aquilo que é.


Quando me abraçavas,
sentia-me tão minha que te estranhavas
Sabia que estavas lá
Sentia teu toque e tua distância
tão dual...
Sabia que estavas lá
E não me tinhas, mas me ganhavas
pouco a pouco
gostando
sofrendo
nós dois - dançando no espaço
entre esquivas e encontros
romance tão nosso!
Quando me abraças, encontro-me
Ainda cantamos nossas canções
soltas no espaço
Estás sempre aqui.
Estou sempre aí.
Nós somos.

Da sinestesia I


Sempre pensei que minhas memórias eram alaranjadas
como o laranja das cartas antigas
de um quarto ensolarado
como só meu coração parecia sentir.
Mas descobri por esses dias,
que a nostalgia tem em mim
outro acesso:
os dias frios de sol forte (ainda alaranjado).
Não bastando o sol...
a queda de temperatura
transporta-me,
seja em dias de frescor,
seja no ar condicionado na estrada,
à sentimentos apertados.
E se quiser que minha saudade aumente
basta juntar à cena um verde.
Ar frio, sol alaranjado e árvores ao redor...
sim, o passado me abraça insistente.
Sinto saudades.

Bixby Canyon Bridge

Para um domingo empoeirado e silencioso...

Death Cat for Cutie

13 março 2011

In-consciente


Aquilo que não entendo
eu tento
me tenta.


Por esses tempos
sinto que se piscar
o dia passa
e meu coração dispara
quando o alarme soa
quando penso no trabalho
em casa
na rua
no amor.

Sinto que se piscar
a poesia morre
meu jardim seca
     descompasso
e sei que assim
paro de dançar.

Não esqueço.

Não me esqueço por um segundo se quer
e às vezes até te esqueço
Pobre de mim...

Sinto que se piscar
melhor seria fechar os olhos
parar de acreditar que seguro as rédeas
de qualquer coisa chamada emoção
que não sei de onde surge
mas que me força
a nunca
aspálpebrasjuntar.

Entre tuas pálpebras me descomponho
e meu corpo declama poemas
Estampo em minha vida
teus pêlos e traços marcantes
Esculpo com minhas mãos
tuas formas inacabadas
No calor de sua pele
gemo gemo gemo
Travo batalhas em meu peito apertado
Matas-me a cada manhã
Vivo entre perder-me e deixar-te
Quero leveza, mas meus olhos são âncoras
Não sei o que me invade
sei que à força tomas meu querer
presa em teu olhar.

26 novembro 2010

Canção da mulher após o amor


Amo tua voz e tua cor
mas não cantarei, meu bem,
não te cantarei depois do amor
Pois é na dor que me deixas
enquanto dormes gozado ao meu lado.
Não amor, não cantarei mais para você
emudecerei meu corpo que vibra
meus olhos apaixonados
após a trepada suada
para deixar-me morrer mulher
corpo, desejo e suor em plena madrugada.

07 novembro 2010

É tanta água que cai do céu
É tanta coisa que deságua de mim
Era para ser muito
Eu esperava tanto
E perco-me entre fadas e querubins
Entre desejos e angústia que parecem não ter fim
E por fim, vejo teu rosto
Vejo meus olhos
Você penetra em todo o meu ser
Enfeando-me
Desmontando-me
Revelando-se
Solidão.

17 outubro 2010

são tantas noites
a se fingir
de dia

e tantas coisas
que quebrei
(em mim)

eu sinto muito

não descanso as horas
alongo os instantes
na letargia da alma inquieta
remoendo as migalhas

era bomba era fogo
era um pedaço exato
foi o instante que perdi
e a miséria que tenho em mim

eu sinto muito

existir entre o pão e a espada
capataz incapaz de si
dilacerando a poesia
dos instantes
pra ver se tira dos restos
algum sentido

e subito descobrir
que o mundo é desmistério
ferramenta do óbvio acaso
sonho impregnado na matéria
e não há despertar

eu sinto muito
(Pedro Tostes)

01 outubro 2010

Acreditava que amar era qualquer coisa de doação...

mas o amor encarregou-se de mostrá-la que
em tempo e hora

é encontro
com alguma coisa de destino,
espanto,
nudez
e canção.

26 setembro 2010

Confissão - Leila Mícollis

Dizem que o amor é cego, 
não nego, 
por isso te abro os olhos: 
não tenho bens nem alqueires, 
eu não sou flor que se cheire, 
nem tão boa cozinheira, 
(bem capaz que ainda me piches 
por só comer sanduíches), 
minha poesia é fuleira, 
tenho idéias de jerico, 
um cio meio impudico 
como as cadelas e as gatas, 
às vezes me torno chata 
por me opor ao que comtemplo, 
sei que sou péssimo exemplo, 
por pouca coisa me grilo, 
talvez por mim percas quilos, 
eu não sei se valho a pena, 
iguais a mim, há centenas, 
desejo te ser sincera. 
Mas no fundo o amor espera 
que grudes qual carrapicho: 
são tão grandes meu rabicho 
e minha paixão por ti, 
que não estão no gibi... 
Ao te ver, viro pamonha, 
sem ação, e sem vergonha 
o meu ser inteiro goza. 
Por isso, pra encurtar prosa, 
do teu corpo, cada poro 
eu adoro adoro adoro... 

15 agosto 2010

Poema concreto


Um onda,
outraondaoutraondaoutraondamaisoutraonda
o fim.

16 julho 2010

Eu deixarei que morra em mim
o desejo de amar os teus olhos que são doces 
Porque nada te poderei dar senão a mágoa de me veres eternamente exausto 
No entanto a tua presença é qualquer coisa como a luz e a vida 
E eu sinto que em meu gesto 
existe o teu gesto e em minha voz a tua voz 
Não te quero ter porque em meu ser tudo estaria terminado 
Quero só que surjas em mim 
como a fé nos desesperados 
Para que eu possa levar 
uma gota de orvalho 
nesta terra amaldiçoada 
Que ficou sobre a minha carne 
como nódoa do passado 
Eu deixarei... 
tu irás e encostarás a tua face em outra face 
Teus dedos enlaçarão outros dedos 
e tu desabrocharás para a madrugada. 
Mas tu não saberás que quem te colheu fui eu, 
porque eu fui o grande íntimo da noite. 
Porque eu encostei minha face na face da noite 
e ouvi a tua fala amorosa. 
Porque meus dedos enlaçaram os dedos da névoa 
suspensos no espaço. 
E eu trouxe até mim a misteriosa essência do teu abandono desordenado. 
Eu ficarei só 
como os veleiros nos pontos silenciosos. 
Mas eu te possuirei como ninguém 
porque poderei partir. 
E todas as lamentações do mar, 
do vento, do céu, das aves, das estrelas
Serão a tua voz presente, 
a tua voz ausente, 
a tua voz serenizada.

13 julho 2010

Ser miserável dentre os miseráveis
Carrego em minhas células sombrias
Antagonismos irreconciliáveis
E as mais opostas idiossincrasias!
Muito mais cedo do que o imagináveis
Eis-vos, minha alma, enfim, dada às bravias
Cóleras dos dualismos implacáveis
E à gula negra das antinomias!
Psiquê biforme, o Céu e o Inferno absorvo...
Criação a um tempo escura e cor-de-rosa,
Feita dos mais variáveis elementos,
Ceva-se em minha carne, como um corvo,
A simultaneidade ultramonstruosa
De todos os contrastes famulentos!

Augusto dos Anjos. Vítima do Dualismo

11 julho 2010

A SEMANA FOI ASSIM


A semana? Passou que nem corisco,
somente aqui e ali deixando um risco
além do velho céu, hoje quadrado,
pelas  naves do cosmo ultrapassado.
Que pretendem os homens: descobrir
um novo mundo, onde se possa rir?
brincar de amor, jogar de ser feliz?
tirar diploma de deus-aprendiz?
(...)
É isso a espécie: um renovar aos trancos,
aos gemidos, aos cálculos e arrancos,
entre miséria e ciência, na poesia
da eternidade posta num só dia.


- Carlos Drummond de Andrade - 

Domingo com Drummond...

Enigma

Faço e ninguém me responde
esta perguntinha à-toa:
Como pode o peixe vivo
morrer dentro da Lagoa?

03 julho 2010

29 junho 2010

O amor, quando se revela,
Não se sabe revelar.
Sabe bem olhar p'ra ela,
Mas não lhe sabe falar.

Quem quer dizer o que sente
Não sabe o que há de dizer.
Fala: parece que mente
Cala: parece esquecer

Ah, mas se ela adivinhasse,
Se pudesse ouvir o olhar,
E se um olhar lhe bastasse
Pra saber que a estão a amar!
Mas quem sente muito, cala;
Quem quer dizer quanto sente
Fica sem alma nem fala,
Fica só, inteiramente!

Mas se isto puder contar-lhe
O que não lhe ouso contar,
Já não terei que falar-lhe
Porque lhe estou a falar...



FERNANDO PESSOA

Vingado

Nesse quarto passa de tudo, só não passa você.
Estou sozinha e cercada por tanto barulho
Será esse outro poema sem futuro?

Sinto que gelo por fora
O som da vida lá fora me incomoda.
O que andará fazendo o meu amor?

Perco-me no vazio da minha mente
Só os carros lá foram me atropelam,
Apelam, apelam, apelo, apelo por você.

Por você? Já nem sei.
Mentira, é certo que compreendo.
Ainda assim, duvidar é romântico, apimenta.
Será preciso mais tempero nessa panela?

De pensar morreu o burro e nasceu o poeta.
Acho que penso demais,
Acho que morri como o burro.
Sim, eis que nasce mais um poema sem futuro.

28 junho 2010

Uma vez...

Mais um dia terminou
Vou dormir sozinha.
Quero tanto você
Quero tanto saber que não te tenho
Que é pra eu deixar esse quarto
De uma vez...

De uma vez por todas...
Mais uma vez como sempre
O dia terminou
Vou dormir sozinha
com você.

18 junho 2010

Amargura

dizem que o inverno chegou

o sol ardente e alegre do verão sempre a incomodou
anda pelas sombras entre amarguras e becos gelados
só pensando na ausência que restou

o corpo adoecendo aquecido pela febre
a boca seca
a alma desidratada
desdenha o amor
saliva que sacia

de tanto desejar
acabou se afogando na solidão
já não quer mais acreditar
no resgate de uma primavera qualquer

Já me disseram que sua maior proeza 
É não deixar marcas na minha vida.
Proeza? Todo mundo acha.
Eu poucas vezes te acho.
Eu sempre me encontro 
E sempre me escuto:
a gente só se encaixa.
Naquela noite resolveu não morrer. Levantou-se da cama e se pôs ali, na imensidão da sua janela, olhando a cidade antiga, as ruas alaranjadas com suas casas coloridas e janelas... Algumas tão escuras e ainda assim tão vivas, cheias de pessoas que ela ainda não conheceu. Algumas dormindo, outras amando, quem sabe? Algumas janelas azuis, outras, musicadas. Ela podia ouvir ao longe uma mulher cantando com viscerais agudos chorosos, harmoniosos. E achou belo! Numa rua passava um rapaz encapuzado. A cidade sentia frio nessa época do ano. Atrás de que o rapaz estava ela nunca saberia. Talvez de alguma diversão, talvez de alguém específico, quem sabe de quatro reais e um abraço. Ela só sabia que pensava na rua, na vida e entendeu que mesmo diante do caos da impossibilidade não poderia deixar de pensar em si. Não matou seus desejos e raivas, nem se quer os colocou para dormir como fizera nos últimos dias... Encarou-os de frente e até achou graça. A bendita beleza perseguida. Naquela noite resolveu viver... Adormeceu sabendo que pensava e deixou de temer. Amanheceu o dia.

15 junho 2010

Amores passados


Engraçado, hoje encontrei nosso cd - uma seleção de músicas que fizemos nos primeiros meses de namoro. Lembra? Tinha até “Eu sei que vou te amar”! Depois disso parece que esqueci como era amar assim... Romântica, leve, inteira. Como é bom saber que fomos felizes, não é? A gente se divertia a beça! É estranho pensar isso, pois, nos últimos anos achei que tivesse azar no amor, e não é bem assim. Amamos até o fim. Talvez você tenha amado um pouco além disso, como a maioria dos meus ex-namorados. Talvez eu tenha a mania incontrolável de esquecer rápido como fui feliz. (silêncio) E as músicas continuam tocando... Eu já me casei, você já se casou... Já até me separei. O segredo para ser feliz com alguém ou sozinho talvez se resuma em “amar não é mesmo tudo”. E o nosso trato continua em pé: quando nos encontrarmos na rua, mesmo acompanhados, vamos nos cumprimentar por aquele apelido só nosso e trocar no olhar o sonho de uma vida inteira que vivemos um dia, no passado. Afinal, eu sei que vou te amar por toda a minha vida, não é?

16 abril 2010

Desencanto

"Eu faço versos como quem chora
De desalento... de desencanto...
Fecha o meu livro, se por agora
Não tens motivo nenhum de pranto.

Meu verso é sangue. Volúpia ardente...
Tristeza esparsa... remorso vão...
Dói-me nas veias. Amargo e quente,
Cai, gota a gota, do coração.

E nestes versos de angústia rouca
Assim dos lábios a vida corre,
Deixando um acre sabor na boca.

- Eu faço versos como quem morre."



                                 Manuel Bandeira

11 abril 2010

Hoje escrevi um poema torto
Tão torto que senti vergonha do papel.
As palavras se revelaram escandalosas
E o que estava oculto fez meu rosto corar.